De uns anos para cá, todas às vezes que tenho uma crise muito braba, acabo me voltando para o Budismo e Zen-Budismo. E, claro, desta vez não foi diferente. Na última, acabei relendo Vagabundos Iluminados, do Jack Kerouac, mas agora fui para leituras mais raízes.
Tenho um livro chamado “A Doutrina de Buda” que não sei como veio parar em minhas mãos. Ele simplesmente brotou no meio dos meus livros e permanece comigo desde então. É uma edição com uma capa dura laranja, com uma foto do nascer ou por do sol, e escrito o título do livro em letras azuis e atrás, um símbolo que não sei o que é e nunca fui atrás de saber, mas parece uma Estrela do Caos, o que em parte explica porque o livro permanece comigo. A edição é de 1966 e creditada ao Bukkyo Dendi Kyoukai (Sociedade para a divulgação do Budismo).
Em suas 306 páginas, traz a história de Buda e explicações de suas principais doutrinas (dã…). Tudo de forma bem detalhada, com fábulas e até um glossário no final. Acho que é a quarta vez que estou lendo este livro.
Mas, desta vez junto com esta leitura, estou quase todas as noites lendo um aforismo do Tao Te Ching (O livro que revela Deus). Tinha lido pouca coisa dele anos atrás, mas agora estou mais firme nesta segunda leitura.
Ambos os livros são o que chamo de “leituras de camadas“ (apesar que isso pode se aplicar qualquer produto cultural, seja um livro, uma HQ, um filme ou uma música). Em uma primeira leitura você vai praticamente só dar uma geral ali sem entender ou absorver muita coisa, vai ser só em leituras posteriores (ou mais perto do final, em alguns casos) que algumas coisas passam a fazer sentido e as conexões começam a aparecer. Mas isso só acontece poque a primeira camada, que é só ler as malditas palavras do livro em si, já foi feita.
“Ok, beleza, mas porque você se volta para lá?” vocês me perguntam. Bem, digamos que minhas crises muitas vezes te a ver com uma suposta falta de controle sobre minha vida como um todo. E desta vez, quando fui levar alguns exames para meu neurologista, ele me disse que o maior erro que a pessoa pode cometer e querer ter controle sobre todos os aspectos da sua existência, porque existem coisas que você nunca vai controlar e tentar fazer isso só gera mais angústia e sofrimento. Tem coisas que devem ser deixadas seguir seus cursos naturais, que são como são, e que não cabe a nós interferir. Bom, quer algo mais budista do que isso?
E aí está a resposta que busco nestas leituras, esse derivar existencial, tentar aprender e controlar menos as coisas as coisas, aceitar muitas como são e saber escolher melhor as minhas batalhas. É um resumo grosseiro das leituras que faço, admito, mas basicamente é a lição básica que me vem: tudo é transitório, nada é, não conhecemos a essência de nada e querer lutar contra esta transitoriedade é a fonte de muito sofrimento para o homem.
Bom, se eu tive mais uma crise e estou lendo este livro pela quarta vez, é possível que você questione a eficácia destas filosofias. Justo. Mas, em primeiro lugar, admito que não sou um praticante ferrenho das orações e leituras budistas. Mas cada vez que leio um pouco sobre o assunto, um pouco mais dela fica guardado comigo e segue em meu coração e mente, de modo que entro um pouco em contradição com a tal da “não-prática” descrita antes, mas acho que me fiz entender. E, em segundo lugar, quando falo em crises pessoais, falo de crises brabas mesmo e, se estou aqui vivo escrevendo estas palavras, foi porque tudo isso me ajudou a segurar a onda.
No fim, acho que sou mais zen-budista que budista mesmo. Com a minha prática gerando uma não prática que me obriga a começar todo o clico de novo e de novo, mas sempre um degrau acima do que estava anteriormente. Bom, se isso não é uma caminhada típica rumo à Iluminação…