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Notas para mim mesmo – 8

Publicado: 12 de dezembro de 2023 em Hã?
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Não foi exatamente com estas palavras que li, mas tá valendo:

“Meditar é que nem dormir. Você não vira para seu corpo e mente, diz ‘vai dormir’ e simplesmente dorme. Você tem que entrar em um ‘estado de dormir’, parando tudo e relaxando corpo e mente até chegar nele.

A mesma coisa com a meditação. Você não vai sentar, cruzar as pernas, dizer ‘mente, silêncio e relaxe’ e vai acontecer de imediato. É preciso deixar o ‘estado de meditação’ acontecer.”

– David Shoemaker, “Vivendo Thelema”

Por causa do trabalho, ando tendo que ler muita muito sobre Metaverso, NFT, Blockchain, Criptomoedas, Inteligência Artificial e afins. Li muitos artigos online criticando a coisa toda. Li muitos artigos de deslumbrados tentando se firmar como especialistas em algo que é pura especulação no momento (Metaverso e NFT) ou algo que, mesmo sendo realidade, não se sabe ainda onde vai parar (Inteligia Artificial).

Minha opinião nisso tudo, se é que interessa a alguém, é que no caso do Metaverso e do NFT, a Meta (ex-Facebook) e os entusiastas tentaram vender uma parada muito além do que entregaram e o resultado decepcionou geral. O acesso real à essas coisas dependem ainda do barateamento de muita coisa, então não esperam grandes novidades nessa área antes de 2050. Quem tinha que ganhar dinheiro em cima de otário com essa onda que já passou já ganhou. Agora todo mundo vai para de investir nestas coisas e o desenvolvimento disso vai ficar nas mãos do Kevins Flynns da vida (o que eu particularmente acho muito mais interessante);

Já as IAs são uma realidade que já estão sendo usadas, não especulação de punheteiros do Vale do Silício. E elas vão mudar bastante as dinâmicas de algumas coisas sim. Do alto de tudo que ando lendo ouvindo e estudando, não sei ainda se sou um Apocalíptico ou um Integrado (meldels, hoje estou cheios das referências obscuras). Pretendo fazer alguns testes esta semana e quem sabe até o fim de semana eu volta com uma opinião mais formada (pelo menos até ela mudar de novo).

Mas nem era o assunto principal deste texto, na real. Só estou falando disso tudo para explicar que umas semanas atrás comprei uma edição da Super Interessante que tinha a tal da Inteligência Artificial na capa. Apesar do preço salgado (R$25,00), afirmo sem medo que a experiência valeu a pena.

Primeiro porque finalmente li um texto que explica da maneira clara e didática a origem do ChapGPT, como ele funciona, como usá-lo corretamente e uma análise não alarmista do que ele representa para o futuro da escrita feita por seres humanos como a conhecemos. Só isso já teria valido a compra.

Mas tem um fator que publicações impressas como jornais e revistas semanais / mensais trazem que a Internet não consegue reproduzir, que é a navegação pelos assuntos mais distintos. Quando você abre um link para ler um texto, nem sempre você abre outros links a partir dele. E, mesmo quando o faz, acabe que são links que em 90% das vezes ainda falam sobre o mesmo assunto, trazendo ou mais profundidade ou outros pontos de vista. Mas, no final das contas, você ainda está lendo sobre a mesma coisa.

Agora, vamos pegar o exemplo prático de minha leitura da Super Interessante. Pelo preço que paguei na revista, iria lê-la de cabo a rabo e foda-se. Então, além da matéria sobre o ChatGPT, li coisas como as origens da Democracia antes e longe da Grécia (algo que teria grandes chances de eu ler na Web) e as origens e tecnicidades da Fórmula E (eu que eu NUNCA leria na Web), além de uma matéria bem bacana sobre jogos de tabuleiro milenares.

Não adianta, este tipo de experiência de passar os olhos por vários assuntos tão distintos ainda não é reproduzido nas Internet. Aquele monte de títulos e linhas finas não fazem o mesmo que tu de fato bater o olho no texto em toda a sua completude.

Então, se alguma revista destas te interessar por algo que viu na capa, eu recomendo comprar sem medo. De “brinde” tu vai acabar lendo um monte de coisa bacana e totalmente fora das suas áreas comuns de interesse, te garanto.

De uns anos para cá, todas às vezes que tenho uma crise muito braba, acabo me voltando para o Budismo e Zen-Budismo. E, claro, desta vez não foi diferente. Na última, acabei relendo Vagabundos Iluminados, do Jack Kerouac, mas agora fui para leituras mais raízes.

Tenho um livro chamado “A Doutrina de Buda” que não sei como veio parar em minhas mãos. Ele simplesmente brotou no meio dos meus livros e permanece comigo desde então. É uma edição com uma capa dura laranja, com uma foto do nascer ou por do sol, e escrito o título do livro em letras azuis e atrás, um símbolo que não sei o que é e nunca fui atrás de saber, mas parece uma Estrela do Caos, o que em parte explica porque o livro permanece comigo. A edição é de 1966 e creditada ao Bukkyo Dendi Kyoukai (Sociedade para a divulgação do Budismo).

Em suas 306 páginas, traz a história de Buda e explicações de suas principais doutrinas (dã…). Tudo de forma bem detalhada, com fábulas e até um glossário no final. Acho que é a quarta vez que estou lendo este livro.

Mas, desta vez junto com esta leitura, estou quase todas as noites lendo um aforismo do Tao Te Ching (O livro que revela Deus). Tinha lido pouca coisa dele anos atrás, mas agora estou mais firme nesta segunda leitura.

Ambos os livros são o que chamo de “leituras de camadas“ (apesar que isso pode se aplicar qualquer produto cultural, seja um livro, uma HQ, um filme ou uma música). Em uma primeira leitura você vai praticamente só dar uma geral ali sem entender ou absorver muita coisa, vai ser só em leituras posteriores (ou mais perto do final, em alguns casos) que algumas coisas passam a fazer sentido e as conexões começam a aparecer. Mas isso só acontece poque a primeira camada, que é só ler as malditas palavras do livro em si, já foi feita.

“Ok, beleza, mas porque você se volta para lá?” vocês me perguntam. Bem, digamos que minhas crises muitas vezes te a ver com uma suposta falta de controle sobre minha vida como um todo. E desta vez, quando fui levar alguns exames para meu neurologista, ele me disse que o maior erro que a pessoa pode cometer e querer ter controle sobre todos os aspectos da sua existência, porque existem coisas que você nunca vai controlar e tentar fazer isso só gera mais angústia e sofrimento. Tem coisas que devem ser deixadas seguir seus cursos naturais, que são como são, e que não cabe a nós interferir. Bom, quer algo mais budista do que isso?

E aí está a resposta que busco nestas leituras, esse derivar existencial, tentar aprender e controlar menos as coisas as coisas, aceitar muitas como são e saber escolher melhor as minhas batalhas. É um resumo grosseiro das leituras que faço, admito, mas basicamente é a lição básica que me vem: tudo é transitório, nada é, não conhecemos a essência de nada e querer lutar contra esta transitoriedade é a fonte de muito sofrimento para o homem.

Bom, se eu tive mais uma crise e estou lendo este livro pela quarta vez, é possível que você questione a eficácia destas filosofias. Justo. Mas, em primeiro lugar, admito que não sou um praticante ferrenho das orações e leituras budistas. Mas cada vez que leio um pouco sobre o assunto, um pouco mais dela fica guardado comigo e segue em meu coração e mente, de modo que entro um pouco em contradição com a tal da “não-prática” descrita antes, mas acho que me fiz entender. E, em segundo lugar, quando falo em crises pessoais, falo de crises brabas mesmo e, se estou aqui vivo escrevendo estas palavras, foi porque tudo isso me ajudou a segurar a onda.

No fim, acho que sou mais zen-budista que budista mesmo. Com a minha prática gerando uma não prática que me obriga a começar todo o clico de novo e de novo, mas sempre um degrau acima do que estava anteriormente. Bom, se isso não é uma caminhada típica rumo à Iluminação…

Uma foto do livro “Mágicka Visual”, em cima de uma mesa.

Em uma live recente indicaram o livro “Mágicka Visual”, do Jan Fries e publicado pela Penumbra, como um dos bons livros atuais sobre Magia do Caos. Já passei da metade do livro e já posso tecer algumas não-tão-humildes impressões sobre a obra.

Primeiro é que não é uma obra sobre Magia do Caos. Esta linha de trabalho tem alguns anos já, uma metodologia estabelecida e isso não está na obra. Acredito que esta confusão acontece devido ao primeiro capítulo sobre sigilos e porque o autor cita o Spare algumas vezes. O autor define seu livro como “um guia de xamanismo free style” e é uma definição perfeita sobre o que o leitor vai encontrar ali.

Alguns pode alegar que nada seria mais próximo da Magia do Caos que um xamanismo free style e tem sua parcela de razão. Mas o autor usa a Magia do Caos como um dos elementos para a linha de trabalho em que se propõe ali e inclusive tem trechos onde se coloca à parte dela. Então não é só opinião minha, são palavras do próprio autor.

Estou gostando bastante do livro, mas apesar de se propor como uma obra tanto para iniciantes quanto para experientes, quem estiver começando no caminho vai ficar bem perdido com muitos termos e práticas colocadas ali. Então ela funciona muito mais como uma desconstrução e simplificação para quem já tem um tempo de práticas do que para quem vai começar do zero.

Por fim, para um livro que se propõe para práticas mais simples e rápidas, ele sugere que muitas coisas sejam feitas no meio do mato. Não parques, não terrenos, mas mata mesmo. E isso fica meio contraditório pra mim.

Mas é uma visão diferente da Magia em si, menos erudita e mais lúdica, com coisas bem bacanas para magos e afins reverem o que fazem e como fazem, e faz uma ligação bem forte entre Arte e Magia, então recomendo bastante.