Arquivo de agosto, 2023



Eu estava esperando o maldito ônibus elétrico para ir encontrar o pessoal no shopping quando vi a Gláucia do outro lado da rua, saindo da casa dela com aquela menina que tinha me apresentado outro dia. Estavam carregando algumas malas e iam entrar na garagem da casa quando me viram. Acenaram simpaticamente e atravessei a rua correndo na primeira oportunidade. Vendo aquelas malas, resolvi dar uma de engraçadinho e soltei, todo irônico:

– Estão indo viajar, é?

As duas trocam olhares e Gláucia respondeu:

– Na verdade só a Camila. Ela vai voltar pra cidade dela.

A surpresa da notícia deve ter ficado mais do que evidente na minha cara, já que a Camila confirmou:

– Na verdade eu sou de Lençóis Paulista. Vim só passar uns dias aqui. Vou embora hoje, mas volto assim que der, tá?

Eu ainda estava digerindo toda a informação. Ela morar no interior não era o problema em si, mas sim o modo como eu havia eu agido quando as duas foram me visitar em casa há quase uma semana…

(mais…)

Faz tempo, né? Aconteceu muita coisa de lá pra cá, incluindo uma crise de ansiedade fudida, entrega de dois projetos importantes no trabalho e a retomada de alguns projetos pessoais. Mas, como diria Jack, o estripador: vamos por partes.

Andava nos últimos tempos realmente determinado a colocar minha vida minimamente nos eixos, e nisso percebi que, ao contrário do que eu pensava e alimentava, algumas coisas, se não estão 100% em ordem (e nunca vão estar, essa é a real), pelo menos posso dizer que estão funcionais.

Então tenho o orgulho de dizer que as coisas em casa, no sentido arrumação e organização, deram uma boa ajeitada, incluindo aí as rotinas com a Alanis, como alimentação e passeio. Na prática, isso quer dizer que encontrei tempo no meu dia pra fazer estas coisas de boa, sem desespero e sem gerar gatilhos de ansiedade. Parece pouco, mas para quem se enrolava demais por causa da ansiedade, foi um baita avanço. Claro que não posso me acomodar e agora preciso me atentar às coisas de casa que precisam ser arrumadas. Mas vamo que vamo.

Em paralelo, comecei a retomar minha rotina de práticas e estudos espirituais. Falando somente do mínimo para manter estas coisas funcionando, tenho feito um banimento, um rito na linha Pilar do Meio, orações, bato cabeça para meu orixá e meditado 10 minutos, além de ler um aforismo do “Tao Te Ching” antes de dormir. Parece muito, mas tudo isso não dá nem 20 minutos do meu dia. Para quem se interessar em se aprofundar nestas práticas diárias, recomendo este texto.

Claro que para isso abri mão de certos formalismos. Quando este exercícios de maneira “completa”, visto a roupa adequada, acendo velas, uso anéis, colares, varinhas e esteira. Aí entre preparar o ambiente, me arrumar, fazer os exercícios em si e desmontar tudo, bem vai uns 30 minutos. Eu acho um absurdo dizer que não tenho 30 minutos na minha manhã para fazer isso, mas a real é que isso acontece e às vezes.

Então, para não ficar sem fazer nada no dia a dia, faço os exercícios sem a meditação entre eles, onde eu estiver, com a roupa que eu estiver, usando a minha vontade pura e simples como ferramenta. A coisa toda acaba sendo mais rápida, mas com menos formalidades a gente tende a entrar “menos no clima”.

Não vou entrar em uma discussão sobre o quanto o teatro e a parafernália durante atos mágickos o tornam mais efetivos ou não. Mas para estes ritos meus em específico, tinha escolhido uma abordagem mais formal justamente para me forçar a parar e fazer. A versão “fast food” acaba não tenho tanto esta função de pausa da realidade mundana, mas o importante é manter a limpeza energética em dia, certo? Fui para aquela linha de “caminhar 10 minutos é melhor que não caminhar nada”. E pelo menos uma vez por semana faço o rito completão.

(Sem contar que vou pro terreiro praticamente toda sexta-feira, né? E se tem um lugar em que o rito é mais do que completo, é lá)

Aí o passo seguinte era colocar o meu trampo em ordem. Não é bem que ele não esteja. Estou fazendo as entregas que tenho que fazer, elas estão sendo bem avaliadas, mas eu me enrolo para fazer as coisas, acabo fazendo correndo em cima da hora e o custo mental e emocional disso acaba sendo alto. Já estou de saco cheio disso. Então tô no processo aqui de me educar a fazer as coisas em etapas e um pouco por dia.

O foda é que meu foco anda uma merda também. Ficar meia hora fazendo uma única coisa que não seja videogame ou ver TV me demanda um esforço enorme. Vou começar uns exercícios com psicóloga e a psiquiatra me receitou Ritalina. Vamos ver se vai ajudar.

A ideia é que, com o trabalho mais em ordem, eu coloque em ordem minhas tarefas com a Excelsior Comic Shop. E aí sim sim, com tudo rodando de maneira mais funcional, ter tempo para meus projetos pessoais e conseguir voltar a escrever regularmente.

Eu tava tentando fazer tudo ao mesmo tempo e não tava dando conta. Então por isso dividir, priorizar e atacar o que precisa ser atacado primeiro. Não é questão de não ter tempo para escrever, mas sim questão de conseguir separar melhor as coisas para o trabalho não invadir o sebo para não invadir minha escrita para eu não precisar escrever no trabalho e trabalhar de madrugada e fazer coisas do sebo no fim de semana e, bem, vocês entenderam.

Nem tudo o que ando fazendo vai necessariamente render textos aqui. Pretendo fazer alguns “work in progress” de algumas coisas, mas alguns projetos estão em uma fase de organização de bibliografia, caça de referências importantes e tal. Algumas paradas vão exigir um estudo brabo antes de virem a público de maneira mais formal. Outras dá pra ir colocando aqui e quem sabe vocês não brincam comigo?

Por outro lado, achei alguns textos antigos no meu HD externo que acredito que valha a pena postar por aqui. Coisa que tá há tanto tempo fora do ar que vai ser inédita pra muita gente.   

 Então vamo que vamo, bastardos.

Cadeira

Publicado: 12 de agosto de 2023 em Hã?
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Mestre: Ali. Alguém pode me dizer exatamente o que é este objeto?

[aponta para uma cadeira]

Discípulo: É uma cadeira.

Mestre: E isso é tudo? Isso descreve a totalidade deste objeto?

Discípulo: É um objeto com quatro pernas, e um assento para sua bunda, para que você não tenha que sentar no chão sujo, como o idiota aqui. Uma cadeira.

Mestre: Sim, uma descrição parcial. Mas se eu fosse um antiquário, também poderia descrever o valor deste objeto… Alguma coisa perto de um quarto de milhão de dólares. Se você fosse um especialista, poderia descrever a complexidade do entalhamento em jargão detalhado. Se você fosse Van Gogh, poderia tentar descrever a alma dela.

[destrói a cadeira à marretadas]

Mestre: Mas, onde, em toda essa descrição, está a cadeira em si? Teremos sequer chegado perto de uma descrição completa dela? E já mencionamos que, há vários séculos, isto não era uma cadeira, mas uma árvore? Onde ela está agora? Aqui? Ou em nossa memória? Não podemos sequer descrever uma cadeira e mesmo assim, dizemos “eu sou”, “isto é”… Entendam que não há “eu sou”. Nada “é”.

(Retirado de algum volume da HQ Os Invisíveis, de Grant Morrison